segunda-feira, 2 de maio de 2011

ATENTADO À MINHA MENTE

O ano nem era mais 2004, mas a violência daquele 11 de março, em que bombas explodiram os vagões de um trem em Madri, ainda refletia na minha mente dando asas à imaginação. O medo me usou e me fez sentir o terror, ainda que imaginário, mas o terror, num dos vagões de um metrô de Viena. Estava quente. Pessoas com poucas roupas embarcavam e desembarcavam exibindo seus corpos um tanto já bronzeados pelo sol do verão. Entrei no metrô da linha "U3", na estação "Neubaugasse" indo para casa. Até chegar na  "Stubentor", a minha estação, eu passaria ainda pela Volkstheater, Herrengasse e a estação do centro, a mais lotada e a mais famosa Stephansplatz

Por eu viver no meio de tanta gente diferente (já disse isso) me atrai observar as pessoas e tento adivinhar através de um comportamento ou de uma característica qualquer, de onde vem cada ser que passa pela frente dos meus olhos. Faço isso também nos trens da cidade que é até mais divertido, pois dependendo da estação é fácil saber a origem do povo que mora em determinado bairro. Coisas de Iram. Nessa de observar, gelei quando na estação "Volkstheater" entrou um ser de comportamento  no mínimo suspeito para o calor que fazia naquele dia. Nessa hora me veio à imagem do terror de Madri, e a insegurança me fez perder o total controle da minha consciência. O cara vestia uma calça preta larga e com vários bolsos que davam a impressão de estarem lotados de alguma coisa. Vestia também uma jaqueta preta com o capuz na cabeça, óculos escuros e espelhados. Das orelhas saiam dois fios que iam até os bolsos da calça. Deveria estar ouvindo música, mas com aquela seriedade, mãos nos bolsos, cinto largo na cintura, com vários grampos grossos e mais uma bota de cano até a canela eram demais para eu conseguir manter o domínio da minha imaginação. Tive a certeza absoluta, que em cada vagão daquele trem havia um sujeito igualzinho aquele para nos explodir. Dizia a minha imaginação que, os fios nas orelhas dele eram a comunicação com os outros para a contagem regressiva da explosão. E mais, a explosão iria acontecer na estação mais cheia de Viena, a "Stephansplaz". E já sem sentir as minhas pernas porque tremiam muito, me segurei na porta planejando descer na próxima parada, a "Herrengasse". Mas, embora vocês não acreditem, o pior das coincidências aconteceu. O trem parou no túnel antes de chegar à estação que eu planejava descer. Uma parada comum que sempre acontece, mas não aquela. Pronto! Era agora. Tudo planejado pelos "homens bombas". Renderam o motorista ou maquinista, sei lá que nome dar ao sujeito que dirige um trem desse tamanho. Só sei que nesta hora já sem ar fechei os olhos e pensando nas minhas filhas  esperei o estrondo. E ainda deu tempo pra pensar: "Será que eu escaparia para testemunhar a desgraça?" "Como escapar se eu estou tão perto do ser explosivo?"

Uma senhora vendo que eu não estava nada bem veio me ajudar. A minha voz não saia, mas consegui apontar o causador da tragédia. Apontava pra ele e tentava dizer, que era ele o "homem bomba". Ainda bem que a voz não saia. Lógico que o "homem bomba" não estava entendendo nada, coitado. Ouvindo a musiquinha dele olhava para trás e para os lados procurando outro culpado. Ele e todo mundo. A senhora me abanava me pedindo calma. Dizia que estava tudo bem e que o trem já iria partir. Era só uma espera para o que estava na frente saísse da estação. Minutos depois, o trem seguiu tranquilamente me deixando na "Herrengasse", pois eu não quis duvidar da minha mente insalubre e não tive coragem de passar pela "Stephansplatz". Desci o mais rápido que pude daquele trem fantasma.

Fiquei alguns minutos parada, tremendo que nem vara verde. Quando vi que o trem já havia passado da "Stephansplatz" e não havia explodido, segui para casa andando aliviada e envergonhada. Ainda bem que, provavelmente, nunca mais me encontraria com aquelas pessoas do trem. E refletindo  me dei conta de como eu tinha sido afetada por aquele ato violento do dia 11 de março de 2004. Depois disso evito assistir a esse tipo de notícias já que sou tão sensível a elas.

                              Eu sou normal os homens é que não são.

19 comentários:

  1. Oi Iram
    Esses tempos atrás aconteceu uma coisa semelhante comigo, Mariana, Serginho e a Rafaela que estava nos visitando. Nessa mesma BAT-estação Neubaugasse embarcamos rumo nossa casinha. Não é que tinha uma mala perto da porta abandonada? Passamos pelo Volkstheater e a mala continuou na minha mira. Não deu outra falei pra Rafa vamos sair na próxima estação. No nosso caso o trem não deu uma paradinha estratégica, mas não hora do nervosismo do desembarque a roda do carrinho da Mariana ficou presa no espaço do Metrô e não havia Cristo que fizesse ela sair. Se fosse uma bomba para a Stephansplatz já tinha sido detonada pela demora. Ainda bem que a Mariana estava no sling e não se assustou com a movimentação toda.
    Abafa o caso. Tem micos que só a gente que entende!!!
    Bjs
    Lu

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  2. Que situação amiga!
    Senti calafrios.
    A mente faz cada coisa com a gente, não é?
    Graças a Deus que foi tua imaginação.
    E respondendo a tua pergunta.
    Não aconteceu comigo e nem com ninguém.
    É apenas uma participação no projeto bloinquês.
    Através da chica, não sei se já leste algum dos seus blogs, comecei a participar de alguns projetos.
    Eles fornecem o tema e a gente escreve.
    É muito bacana.
    Fico contente que gostaste
    Bjs e um bom dia

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  3. Oi Iram

    Eu sou muito assustada e capaz de imaginar coisas assim também. Chego a desmaiar se minha mente ficar pensando demais. Por ser como você, ficar reparando, rsrs, nas pessoas, procuro conversar para minha mente não voar.
    No teu caso conversar com quem? Ah, eu teria desmaiado mesmo e que explodisse a bomba. kkkk

    Bjs no coração!

    Nilce

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  4. KKk Imagino o medo que passou, mas que foi engraçado foi...agora que o Osama morreu(?) a Europa vai ter que aumentar mesmo a segurança em todos os lugares. Aliás, hj em dia existe algum lugar seguro no mundo? Nem dentro de casa....beijos,

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  5. A mente, Iram, quando contaminada por sugestões negativas e tão poderosa que chega a matar o indivíduo. Beijos

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  6. o que faz ser imaginativa! eu tb sou assim se vejo uma pessoa scom ar de malandro tungas penso logo que qer fazer mal e às vezes nem acontece nada é somente a fertilidade que eu tenho em imaginar
    assim como tu
    kis .=)

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  7. Ai, Iram, nem diga... eu também evito saber de notícias deste tipo, afinal, não tenho controle nenhum sobre elas. Ests dias atrás, um amigo foi assaltado, e atiraram na direção dele. Graças a Deus não acertaram, e ele está bem, vivinho, vivinho. Mas sempre que vem alguém querendo contar a história do assalto, peço para que isso seja feito quando eu não estiver presente, porque ele pode não estar traumatizado, mas eu certamente ficarei.

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  8. Graças a Deus foi só sua imaginação , mas agora fique experta.... não sabemos o que vem, e aodor seus comentários em meu blog , tambem terei um gde prazer em conhece-la e reforço e refaço o convite vindo para o Brasil me diga entraremos em contato e teri imenso prazer em recebe-los aqui bjs

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  9. AMIGA QUE TRAGÉDIA
    QUE TRISTEZA, O MUNDO
    NÃO TEM MAIS SOLUÇÃO
    PENSO EM COMO SERÁ O MUNDO
    PARA A MINHA FILHA E FICO
    TRISTE TODA VEZ QUE PENSO,
    BJSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS

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  10. Olá, Iram
    Realmente, tem um tempinho que não nos encontramos, não é? Mas é que ao vim ao teu blog tenho sempre que parar para lê as tuas maravilhosas histórias e confesso que, ultimamente, tenho andado meio na correria. Aos poucos as coisas vão se acalmar e terei mais vagar para fazer passeio por aqui e deleitar-me com as tuas narrações em primeira pessoa. Para já, começo a te acompanhar por email, assim vejo melhor as atualizações.
    Gostei imenso da mudança de visual do blog. Está mais estético e delicado. Parabéns!
    Ficas bem e com Deus sempre
    Bjs

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  11. Normalmente, quase todos nós, temos o hábito de sofrer por antecipação. Nesse caso como você já tinha sido afetada pelo acontecido em 11 de março de 2004 a sua reação foi de muito medo. Tudo passou e nada aconteceu, que bom...
    Beijos.

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  12. Oi Iram,
    Vim responder ao teu comentário no meu blog.
    Tem dias que eu me levando inspirada para escrever e o texto surge quase que automático.
    Te revelo uma coisa que enquanto escrevia este texto algumas lágrimas caíram.
    me senti naquela situação, só não sei se no corpo da moça ou da mãe ou mesmo da criança.
    Alguém chegou a comentar e depois?
    O que vai acontecer se você se apegar a criança?
    Me fez pensar.
    Eu não tenho filhos e nem posso tê-los.
    Adotar? Nunca parei pra pensar nesta possibilidade.
    Meu esposo tem filhos (adultos) e 3 netos. Ajudo a cuidar de 2. Talvez esteja ai a minha tarefa de mãe.
    Bjs

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  13. Iram querida, depois que passa é até engraçado, mas a verdade é que não tem como não ser atingida por tanto horror.
    Obrigada pelo carinho, sempre!
    Bjocas e semana linda

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  14. Iram, nem consigo imaginar pelo que vc passou...
    mas que foi um grande susto, isso foi.
    Maravilhoso não ter passado disso...

    Bj

    Rui Pires - OLHAR D'OURO

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  15. oi Iram!
    Li o seu post, com tanta atenção, que parece que ia consigo, eu de vez em quando também tenho desas paranoias, e se.... e se...e vivo atormentada por coisas, que depois vejo que não Têm razão de ser , mas o certo é que se cria uma ansiedade tal, que tudo parece real..já apanhei alguns sustos, mas o medo depois faz com que o "vulto" seja muito maior.
    Seje feliz, nessa terra, que tanto gostaria de visitar.
    Até breve
    Herminia

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  16. Oi Iram. Já vi que a minha amiga a visitou e comentou, mas, não faz mal...hoje o começar de novo vem cá duas vezes. Depois dessas terriveis desgraças, forçosamente nos lembramos delas quando entramos em lugares propícios a actos de terrorismo; é natural que tenha sentido receio; eu por acaso não sou nada medrosa, mas se visse um cara com esse aspecto, não sei o que iria pensar. Bem...já passou. Um beijinho e até breve
    Emília

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  17. Iram querida, quanta imaginação amiga,hihi.
    Imagino o medo que você passou, se fosse eu saltaria na primeira parada, haha.
    Que bom que não passou de pura imaginação.
    Beijokas.

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  18. Iram:

    O terrorismo tem razões que a própria razão desconhece!

    Os fundamentalismos tolos andam por aí e não como irão terminar...
    Deus nos livre dessa fauna indesejável!

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