sexta-feira, 10 de setembro de 2010

- SASSARICANDO NO ARAME -

Depois de um longo período longe desse mundo "vicial" volto contando um pouco da minha viagem. Fui ao Brasil e para quem mora fora de lá, sabe que ir ao Brasil significa: amar, comer e rezar para que tudo dê certo.

Amei reencontrar meu povo, ouvir minha língua no meu país, que nos primeiros dias, incrivelmente a gente até estranha quando se ouve português a nossa volta. Troço maluco, mas logo passa. Como sabem, meu porto é Brasília, que pra variar, me esperava de braços abertos, céu azul, temperatura perfeita e já com cheirinho de secura no ar. Aqui me entrego, me reencarno, me sinto e me acho

Bom, por amor e por recear que minhas filhas ramifiquem de vez suas raízes em solo estrangeiro, as embarco de vez enquando numa aventura, rumo ao Arame, aquela insignificante cidadezinha perdida no meio do nada lembram, né? Pois é no meio desse nada que meus pais contam as horas, minutos e segundo pra nos ver. Então, vamos lá! De Brasília a Imperatriz de avião é moleza. Em duas horas... pronto! Estamos em solo maranhense.
Bruna e Michelly no aeroporto de Imperatriz.
É noite e o melhor a fazer é dormir na cidade. As oito horas da manhã, do dia seguinte, meu sobrinho, cheio de boa vontade, nos pegou no hotel em Imperatriz e seguimos viagem. Depois de quatro anos sem fazer esse trecho embarquei sem expectativa de encontrar  melhororias nas estradas ou na vida daquela gente. Maridinho que estava ali pela primeira vez, só tirava foto e dizia: eita mundão! Ele e as crianças estavam felizes de poder estar comigo nessa expedição. Curiosos e ansiosos fomos nós.
A viagem seguiu tranquila e divertida. Comecei a ver com outros olhos uma paisagem que antes, na ansiedade de abraçar a família, não via. Paisagens que me lembravam versos, e por um fio de memória me vi numa cena recitando Gonçalves Dias: "minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá..." e até me bateu uma sensação gostosa do privilégio de ter nascido na cidade do interior e poder fazer parte desse mundo tão particular.

Nada mudou realmente. Ainda é comum passar por caminhões com pneus pro ar devido as mesmas condições precárias das estradas. As pessoas ainda trabalham e passeiam no lombo dos seus jegues que nas horas de folga, desfilam para os motoristas atravessando a pista na maior exibição. Vejo que o tatu ainda continua sendo o animalzinho de estimação das crianças. As construções continuam frágeis e inacabadas. Essa fonte inesgotável do descaso desse povo esquecido encanta Bruna e Michelle que, de dentro do carro observam tudo atentamente. E vendo que elas opinam, dando outro rumo ao que veem, fico feliz de poder cultivar os meus vínculos e mostrar a elas de onde tirei forças para que elas pudessem viver de forma diferente.

Enfim...
Depois de seis horas de uma cansativa e ansiosa viagem avisto o  bairro onde moram meus pais. Maridinho exclama: eita nós! e tira foto... Me entristeço ao ver tudo tão largado. O carro passa e a essa altura, o bairro inteiro já sabe da nossa chegada. Olhares dos quais não conheço mais, nos seguem curiosos. O meu coração acelera na medida em que me aproximo da rua Rua Matias Firmino. A rua que leva o nome do meu pai, ta! A rua está feia e suja, com muitas comadres ainda sentadas nas portas. Os melequentos correm pra lá e pra cá, sem preocupação. As casas inacabadas parecem abandonadas pelo desmazelo dos seus donos. Num segundo penso como estaria a dos meus pais. Com certeza tão feia não estaria, pois nunca foi. Desde a minha infância eu sempre achava a minha casa a mais bonita do pedaço. 
De repente avisto a minha casa.  Não disse? Ela continua sendo a mais bonita do bairro. Sempre foi assim, graças ao gosto pela profissão do meu pai e ao capricho da minha mãe. A cor escandalosa que se destaca me agrada. As crianças correm para o abraço. São as mais felizes com a nossa chegada, principalmente por causa dos presentes que estão loucas pra receber e eu pra dar. Maridinho foi a sensação. Deu muito mais alegria a esse momento tão esperado. Foi tratado como um rei e exibido como um trofeu. E depois de muito agarra agarra, comilança, relatos da expedição, distribuição de presentes, trocas de admiração e disse me disse, relaxei em berço esplêndido. O berço do meu velho e eterno lar.












Procurei aproveitar de tudo. Entre meus pais me senti mimada, amada, amparada. Na cidade, me senti decepcionada, mas nada que uns gostosos abraços de uns e de outros, não me fizessem sentir num dos lugares mais maravilhosos do mundo. Então, tomamos banho de rio, dormimos debaixo de mosqueteiro, visitamos igreja feita pelas mãos do meu pai, o que me fez abraçá-lo orgulhosamente, visitei velhos conhecidos, tios, primos, sentei na porta da rua, falei das meninas que ainda hoje engravidam com menos de 18 anos... enfim. Curtimos pra valer. E no colo da mamãe, mais uma vez senti o gosto amargo da despedida que só é suportável pela experiência que já temos desses momentos que raramente passamos juntos. Raro, mas intenso. Com isso espero ter energia para continuar falando de "DUAS VIDAS DOIS AMORES."


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