segunda-feira, 12 de abril de 2010

- PAVILHÃO NOVE -


Logo que cheguei a Viena tive minha última crise de pneumonia. Fiquei tão mal, que fui a um hospital para fazer uns exames mais detalhados. Um hospital enorme, dividido em blocos, enumerado como pavilhão um, dois, três... e ia até o nove. Me arrepiei com a familiaridade do nome. Depois dos exames, a sentença: teria que ficar internada. Não acreditando, fui levada para o pavilhão nove. Entrei em parafuso, pois tinha deixado a minha Bruninha de um ano, na época, também doente em casa. Estava em boa companhia, mas isso não fazia diferença, eu queria cuidar dela, mesmo sem condição de cuidar nem de mim. Achei que fosse só por uns dois dias, mas que nada. Era do interesse do sistema que eu ficasse mais tempo.

Comecei a achar que me davam alguma coisa para que eu piorasse a cada dia, pois eu entrei no hospital me sentindo bem e de repente era tanta febre, tanto mal estar, tanta coisa feia que saia de dentro de mim, que eu parecia mais uma leprosa. Fui para uma ala de isolamento do hospital. Ninguém saia, só entrava. Pensei: vou morrer. E morria. Morria de raiva e de preocupação com a Bruna.

Lá pela quarta-feira planejei minha fuga. Se os presos fogem lá dos outros pavilhões, por que eu não ira conseguir fugir de um pavilhão hospitalar? E assim fiz. Quando o enfermeiro veio à noite me dá o remédio de febre, roubei  outro comprimido para tomar antes do efeito do que ele havia me dado passar, assim quando o médico viesse me examinar, estaria sem febre e me deixaria passear pelos corredores da ala, e aí...tchau! Perfeito! Coloquei minha roupa passei um batonzinho e deixei a bolsa para trás, depois maridinho pegava. Se ele soubesse dos meus planos, terminava de me matar. Passei a primeira porta fingindo ser uma visita, mas na segunda, o segurança me barrou fazendo pergunta, e claro, não deu outra: voltei para o quarto. Chorei  e fiquei pior do que já estava. À noite quando o maridinho veio me visitar, não acreditou quando lhe contei a novidade. Enchi tanto o saco dele para ir embora, que prometeu me tirar dalí até o sábado. Assinamos um termo de responsabilidade e fomos embora. Eu não acreditava que eu estava saindo daquela prisão.

Quando cheguei, achei a casa mais bonita, as filhas mais filhas, mas eu não estava nada bem. Deitada, comecei a revirar os olhos e vi uns anjinhos ao meu redor. Eram as meninas apavoradas com meu estado. Gesticulei para que elas saíssem dalí e eu dizia com uma voz bem fraquinha, que preferia morrer em casa a voltar para o pavilhão nove. Maridinho ligou para o médico, que me passou um remédio, que tomei e que nunca mais tinha uma pneumonia.

Semana passado, algo muito estranho tornou acontecer. Olhei para uma amiga e vi que ela estava "vesga", vi também coisas tortas e uma dor insuportável no globo ocular, tudo isso do lado esquedo. Maridinho saiu do trabalho correndo e me levou para uma consulta, depois da consulta, o médico pediu que fôssemos para um hospital fazer uns exames mais detalhados. Entrei no carro e dormir quase a viagem toda. Chegando lá quem eu avisto? Ele mesmo, o pavilhão nove. Fiquei boa na mesma hora, não precisou nem fazer exame. Voltei pra casa correndo. Dormi o resto do dia e a noite toda. Acordei não vendo mais ninguem "vesgo" e tudo certinho. O ser humano saudável é criativo, mas quando se torna neurótico é perigoso.

Vamos ao passado...


Um comentário:

  1. Ah, sh, ah
    Só por Deus mesmo! Vc acredita que sou asmática? Não tenho mais crises feias a não ser que tenha contato, pois é alérgica. Pneumonia? Já tive muitas crises. E fugir do hospital, aqui é bem mais fácil, fujo sempre. É muita coicidência.
    Você é D+!

    Bjs no coração!

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